sexta-feira, agosto 31, 2012

Ainda há tempo



As ruas estão cheias
Eles vêm. Eles vão
Tropeçam nos calcanhares
Se esbarram na contramão

Miram o horizonte que se esconde atrás do outro

Não trocam mais olhares
São tantos mundos. Todos absortos.
Sem nave - sem flor.
Sem o amigo que se forjou.

São tantos. Estão sós. 

terça-feira, julho 10, 2012

O apanhador no campo de centeio


O mundo pesou sobre mim
Fez morada em meus ombros
Hospedeiro cruel e implacável,
Roubou-me a esperança da chegada

Ode à leveza do vôo rasante
Dos passos da ave que caminha sobre as águas
Sem manual de comportamento
Sua cartilha é sua vontade

Ah, Caulfield! Quero a liberdade de não me importar
Ser apenas um Apanhador no campo de centeio 

sexta-feira, junho 22, 2012

Sorri



Meu coração reconheceu teu sorriso.
Bateu desembestado
Feito zabumba aperreada
Na mão do forrozeiro.

Foi como na primeira vez que te vi
Quando eu, ainda menino
Fazia guerra de juá no pátio do colégio
Me sentindo tão gente grande

Te vi sentada nas escadinhas
Deus do céu, tu já eras tão linda!
Porque eu era tão criança
E tu tão mulher?

Desde aquele dia
O sol apareceu e fugiu um bocado de vezes
A lua cansou de beijar o velho Chico
Aquele pátio virou querência da memória

Mas tua graça persiste
O resto do mundo é ponto cego se você sorri

quarta-feira, junho 13, 2012

Rosa de Saron


Teus olhos miraram o horizonte em busca de paz
Vasculharam gotas de esperança, de amor
Não porque não as encontra em ti
-As têm em abundância e de forma singular-

Mas porque faz parte da tua grife
Estás na estrada e em busca.
Teu verbo se apaixonou pelo gerúndio
Amando, rindo, chorando, cuidando, lutando

O tempo perdeu a linearidade ao te encontrar
Tens as marcas das batalhas estampadas nas mãos e no rosto
Tens a empolgação da adolescência descobrindo o mundo

A sobriedade da mãe protetora, da fêmea líder do bando
O sorriso da criança sendo apresentada à vida, da mulher habitat da beleza

Oficio de subversão. És a Rosa de Saron
Teimando em ser flor, quando a vida lhe impera deserto

sábado, junho 02, 2012

Libelo


Se os opostos se atraem
Nossas querelas são diferentes
Correm na contramão da tal “verdade”                                    
Distanciam-se sob uma gravidade inversa

Fiz-me prisioneiro desse avesso
Violentado na rotina de não ser eu
Exilado de minha querência
Adúltero da amada Pasárgada  

Escolhi o eu errado pra ser

quarta-feira, maio 30, 2012

Arquiteta



Visitei teu jardim, mãinha
Como são faceiras tuas mãos encantadas de simplicidade
Bota cada coisa em seu lugar
Parece tão fácil, tão bobo

Vi um bichinho roubando umas sementes da flor
E no caminho pra casa, por pura distração,
Deixou cair um bocado de vida por tudo que é canto
Foi teu operário

São punhados de poesia
Todos espalhados por aí
Recitando com a verdade de uma criança :

Se achegue 

segunda-feira, maio 14, 2012

Querer-te



É que se eu te tenho ao alcance das vistas
Me fogem a ideia, a memória, a sabedoria
Fico bobo, sem graça, abestalhado

Todas as armas que eu poderia usar
Pra te mostrar que posso ser um homem bom pra você
Se escondem, encolhidinhos num beco qualquer
Ou sob um pé de castanhola, daqueles bem grandes

É teu esse poder todo
E você
Tão segura de si. Tão você
Se distancia, escorrega entre meus dedos
Como um passarinho selvagem que a gente teima em querer segurar

Mas fique em paz
Não bote a cabeça pra endoidar, não
Sou sabedor da impossibilidade que me assombra

Sei que você é meu sonho impossível
A esperança de chegar ao alto da serra
E cravar a bandeira do coração mais que contente

Sei também que perto de você
Vou ser eternamente
Um menino do quinto ano
enfeitiçado pela menina do último
Cercada pelos garanhões
Inalcançável. 

quinta-feira, maio 03, 2012

Tantas Cordas


Saudade da melodia
Da sonoridade vibrando no peito
Andando de mãos dadas com a letra
Palavra
Poesia.
Hoje eu quis cantar tudo o que dizia
Bom dia.
Olá.
Que sono.
Já vou.
Saí no quintal de minha casa e vi um punhado de coisas
Todas pedindo pra virarem música
Cada uma delas,
Música desde o ventre
Apenas esperando ser cantada

Quis ter nascido violão

terça-feira, abril 17, 2012

Percival

Corri.
Andei em busca do cálice.
Caminhei até alcançar a estrela mais distante
Aquela que já se apagou e eu ainda não vi

E lá, sentado no espaço a me observar
Entendi.
E Chorei

As respostas me habitavam.
E eu, tão tolo
correndo pro mundo
Me afastei
___

Vou fugir  pra dentro de mim
Como se houvesse tempo
houvesse razão
vontade.

Sou Percival

quarta-feira, abril 11, 2012

Desapego



Queria -tanto- dizer que te amo
Que não vivo sem você.
Contar que te perder me mataria
Soltar essas frases tão clichês quanto verdadeiras
Quase desesperadas
arrancadas de algum lugar mais profundo que minhas entranhas

Mas não posso.

É tudo tão recente
tão ínfimo
Sou tão desapegado

E você gosta tanto disso em mim.


quinta-feira, abril 05, 2012

Mais uma dos dois




Diga por que 
A gente não pode se casar
Trazer suas coisas pro meu apê
Se encontrar em cada amanhecer?
Quero acordar só pra te ver!

Para, meu bem
Você já é meu único alguém
Encosta pra eu deitar em você 
Toca meu cabelo, vem dizer
Como te fez bem me conhecer

Eu sei, mas eu te quero
Pra toda minha vida
Com você ser família

Meu anjo, te prometo
Ser sua até o fim
Mas meu amanhecer,
O meu “até morrer”
Tá tão perto de mim

O que estas dizendo?
Meu bem, estou partindo
Você não sabe o que diz
Não vai partir
Porque?

Nem tudo tem por quê
Se acalma, por favor,
Você me fez viver
Me apresentou
o amor.

Casa comigo agora
Me dá o seu perdão
Te dou se em troca der
Seu ultimo verão.

É todo seu, amor
Como eu sou também.
Chegou minha estação
Já vou descer do trem. 


quinta-feira, março 29, 2012

Nossa Reconciliação (canção)


Vou subir em minha motocicleta e partir
Sem preocupação
Mas ao dobrar sua esquina irei pensar
Se volto ou não

A distância entre a sua casa e a minha nunca foi
Tão feroz
É pena que ela seja tão menor
Que a que existe entre nós

Será, que quando eu chegar em casa
Haverá uma ligação?
E quando eu retornar – sem graça – você irá
Me pedir perdão?

E mesmo magoado eu te direi
Deixa pra lá
Também falei besteira. Eu nunca quis
Te magoar


Eu devia ir até a janela e ver
Se ele já foi
                                 Talvez gritar "te amo" e encontrar                                                                                       Um sorriso em nós dois

Espero que vá com cuidado e chegue bem
Sem nenhum arranhão
O mesmo, infelizmente, não posso esperar
do meu coração

Será, que quando ele chegar em casa
Vai ligar com a voz mansa?
Pegar o violão rememorar nossa canção?
Vai lembrar como sou boba e me chamar 
de criança? 
Fazer uma piada e confortar
Meu coração

Do cancioneiro


Um bem nessa noite a chuva trás
Nem dá vontade de dormir
Só pra poder seguir
Ouvindo o som que ela faz
Deita no meu ombro
Escuta o som dessa canção
As gotas caindo no chão
São os acordes precisos do meu coração
Se quiser dormir
Fique a vontade
Felicidade, desde hoje à tarde
Se encontra aqui. 


segunda-feira, março 19, 2012

Menina das Curvas


Chamo-te: menina das curvas
Do sorriso curvado pra cima
Dos olhos cuvados pra baixo

De um corpo de voltas e voltas
E mais, me acanho em dizer.
Não sou chegado a traços perfeitos
Ou linhas retas 
Prefiro a imprecisão das curvas
E sua autenticidade 

A retidão é tão previsível
Tu, pelo contrário,
És minha surpresa de cada dia
Um pôr do sol com cores novas
A cada fim de tarde

Sua criatividade
Explode em delírios inesperados

Tens a alma do poeta
Embriagada pela leveza das curvas
Apaixonada por tudo que é belo no mundo